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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mitos Sobre O Amor


Já no primeiro milênio da era cristã, com a consolidação do cristianismo como religião representativa no Ocidente, a noção grega de amor sofreu uma mudança radical – e, com ela, mudaram os mitos. Na religião de Jesus Cristo, o sentimento perde esse forte componente de carência porque Deus, o grande objeto de adoração, também ama.
Reportagem da Revista Istoé discute os mitos sobre um dos mais estudados sentimentos da humanidade.
Quem entende o amor? Tido por muitos como a força que move o mundo, ele é debatido, estudado, virado, revirado e vivido intensamente, mas ninguém consegue compreender os mecanismos que guiam esse intrincado sentimento. Por essa aura de mistério que o cerca e porque ele é um dos temas que mais fascinam os homens desde o início dos tempos, não param de surgir teorias e especialidades criadas com o intuito de tentar explicá-lo. Sem sucesso, diga-se de passagem. Mas da ânsia pelo esclarecimento do que parece ser incompreensível e das infinitas discussões do assunto surgem consensos. E, baseados quase exclusivamente na observação do comportamento humano, eles viram senso comum. “Os homens dão mais valor à parte física das mulheres e as mulheres ao status social dos homens”; “relações proibidas são empolgantes”; “o convívio antes do casamento prepara o casal para a vida conjugal”; “para os homens, masculinidade se afirma com vigor físico e sexual”; “biologicamente, nós, humanos, não fomos feitos para a monogamia”. E se todas essas afirmações fossem mitos? Nos últimos anos, um sem-número de cientistas se debruçou sobre o comportamento de milhares de voluntários para analisar suas reações nas diferentes etapas do relacionamento afetivo: quando queriam conquistar, no momento em que gostariam de ser conquistados, na hora em que decidiam morar juntos, quando traíam ou envelheciam, entre outros. Com as pesquisas, uma série de mitos caiu por terra.
É só comprovar o que dizem os estudos nos quadros ao longo desta reportagem. Nove conceitos consagrados sobre relacionamento afetivo são derrubados, um a um. São teses acadêmicas de respeitadas instituições de ensino do Exterior que se sustentam em investigações e experimentos genéticos sobre monogamia e psicológicos que se debruçam sobre a atração sexual e o fim da paixão, entre outros. “Uma coisa é o que as pessoas dizem que fazem”, explica Marcelo Lercher, sociólogo e professor da Universidade de Brasília. “Outra é o que elas fazem de fato.” É dessa diferença que surgem os mitos. Não é de hoje que o mito ocupa um lugar de destaque nas sociedades. Na cultura ocidental, os primeiros registros surgiram na Grécia Antiga. Lá, algumas histórias representativas da cultura daquele tempo criaram moldes para o que se julgava certo e errado – o que torna o mito um fenômeno intimamente ligado à época e ao local em que ele surge. O amor e o ser amado na Grécia Antiga, por exemplo, eram como objetos inalcançáveis, perfeitos e pelos quais se justificava uma busca quase obsessiva. “É uma aspiração do menos perfeito ao mais perfeito”, explica Arlindo Ferreira Gonçalves Júnior, professor de filosofia e psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP). O sentimento é mais desejo e idealização do que prática. “O amor surge como uma vontade que nunca se sacia”, resume Gonçalves. É nesse momento que nasce o mito do amor platônico, ícone daquele sentimento que se restringe à idealização e que é pleno só quando não é correspondido.
Uma coisa é o que as pessoas dizem que fazem. Outra é o que elas fazem de fato. É dessa diferença que nascem os mitos.
Já no primeiro milênio da era cristã, com a consolidação do cristianismo como religião representativa no Ocidente, a noção grega de amor sofreu uma mudança radical – e, com ela, mudaram os mitos. Na religião de Jesus Cristo, o sentimento perde esse forte componente de carência porque Deus, o grande objeto de adoração, também ama. Nesse sentido, desaba a noção de amor ideal como o não correspondido forjada na Grécia Antiga e, no lugar, entra uma nova percepção do sentimento. Se Deus assume o  posto máximo de ser amado, ele abre espaço para exigências mais terrenas de um companheiro ou companheira. Esse movimento em direção à humanização do sentimento também ganha força no Ocidente a partir das Cruzadas, no século XII. Durante as investidas ao Oriente, os europeus se deparam com noções de amor sensual até então desconhecidas ou esquecidas, principalmente depois da queda do Império Romano, no velho continente. Uma vez de volta a uma Europa em ascensão, eles ressurgem em movimentos literários influenciados pela cultura absorvida nessas viagens. Nessa época, aparecem diversas variações de mitos do guerreiro herói que, impelido pelo amor, resgata uma princesa pura e dá a ela a vida eterna com o seu sentimento.
Trata-se de uma concepção mais abrandada da idealizada platônica: ela já acontece no plano terreno e envolve pessoas com qualidades humanas. São as sementes do amor cada vez mais pessoal e carnal que se consolidará na Europa. Até o final do século XIX, as mudanças culturais e mitológicas já enumeradas demoravam décadas, até séculos para acontecer. Isso mudou de maneira determinante no século XX, quando tudo se acelerou. Duas grandes guerras mundiais, a ascensão e queda do comunismo e o turbilhão dos anos 60 foram mais do que suficientes para fragilizar consensos e mitos até então bem alicerçados, como o de que um casamento só funcionaria com os papéis de homem e mulher bem estabelecidos. Daí conceitos que o senso comum consagrou foram perdendo a credibilidade. Não é a toa que um dos mais respeitados historiadores da atualidade, o inglês Eric Hobsbawm, batizou essa centena de anos de “breve século XX” e falou em uma era de extremos para identificar o período. É nesse contexto que se criou boa parte das afirmações que são desmistificadas pelos estudiosos. Especialistas e pesquisadores procuraram explicar a origem dessas máximas, com base em estudos e teses acadêmicas recentes, de centros de excelência no Brasil e no Exterior. E, principalmente, porque hoje elas podem ser consideradas mitos. Mas, como vivemos uma época de mudanças que ocorrem com cada vez mais rapidez, amanhã elas podem voltar a ser consideradas verdades absolutas, para depois ser derrubadas novamente...
Os primeiros registros de mitos sobre o amor surgiram na Grécia Antiga. Um deles fala da paixão platônica
“A concepção que temos do amor é a essência das nossas relações pessoais, mas hoje vivemos no tempo do amor líquido”, reforça o professor Gonçalves, da PUCCAMP, valendose de uma imagem comumente usada por um dos grandes teóricos da modernidade atual, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, também professor, só que das Universidades de Varsóvia, na Polônia, e de Leeds, na Inglaterra. “Essa é a era da impermanência e da volatilidade das relações humanas e isso tem reflexos inevitáveis no nosso entendimento de tudo. Inclusive do amor.”
Quem Entende O Amor?
Conheça 9 mitos sobre um dos sentimentos mais estudados da humanidade
1 - Homens dão mais valor à parte física das mulheres e as mulheres ao status social dos homens
Homens e mulheres continuam repetindo essa máxima, tal qual um mantra. Mas um estudo da Universidade de Northwestern’s Weinberg, nos Estados Unidos, mostra uma realidade bastante diferente. Com a pesquisa, que envolveu o acompanhamento de 163 jovens durante 30 dias, descobriu-se que, embora boa parte acreditasse na premissa de que homens e mulheres têm prioridades diferentes na hora da conquista, na prática, ambos os sexos agem de forma idêntica. “A beleza é a característica mais desejada, tanto para os homens quanto para as mulheres”, explica o professor Eli Finkel, um dos autores do estudo. A questão do status social fica em segundo plano até entre as mulheres. “O primeiro canal de comunicação é sempre o da aparência física”, lembra a psicóloga Lídia Weber, que ministra o curso “Relacionamento Amoroso: Teoria e Pesquisa”, na Universidade Federal do Paraná. A partir daí, são estabelecidas camadas secundárias de avaliação. E, como se essas semelhanças já não fossem suficientes, o estudo mostrou ainda que, quando homens e mulheres partem para a conquista, os critérios de seleção de um parceiro, ou parceira são praticamente iguais. Nesse sentido, o mito de que as mulheres seriam mais seletivas também cai por terra.

2 - Relações proibidas são mais empolgantes
O frio na barriga do encontro proibido com o ser amado pode ser uma delícia, mas não por muito tempo. Pelo menos é o que demonstra uma pesquisa da Universidade da Geórgia (EUA), de 2005, em que foi constatado que relacionamentos de difícil manutenção, como casos extraconjugais, ou interraciais e interreligiosos, parecem perigosamente interessantes no começo. Mas, com o tempo, manter o segredo é mais trabalhoso e estressante do que divertido. Segundo o estudo, os casais se submetem a esse tipo de relação simplesmente porque não querem contar para a família e os amigos sobre o relacionamento, não porque tenham atração pelo segredo. “Mas as desvantagens a pessoa só vai perceber depois. A paixão é um processo irracional. Se a gente fosse absolutamente racional, não se apaixonaria nunca”, afirma Sônia Eva Tucherman, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria do Rio de Janeiro.A psicóloga Mariana Chalfon, especializada em casamentos interreligiosos, explica que, ao apaixonar-se, o indivíduo pode estar buscando inconscientemente características das quais precisa. “Os opostos se atraem por esse motivo, para tentar fazer com que a pessoa integre esses conteúdos”, afi rma. “Desde o primeiro momento a diferença pode gerar stress, mas isso não é necessariamente ruim. Só resta saber se o casal vai ter força para passar por esse momento e se essa relação vai se tornar madura ou não”, diz Mariana. A psiquiatra Sônia concorda: “À medida que você vai entrando em contato com o ser amado,passa a vê-lo inteiro. É nessa hora que perde a graça e muitas paixões acabam, como se tivessem caído do 50º andar de um prédio.” Ou seja, Romeu e Julieta tinham grandes chances de não serem felizes para sempre, afinal.

3 - Relação com mulheres feministas é mais difícil
O rompimento dessa crença começa na derrubada do estereótipo da feminista: a mulher solteira, feia, lésbica, excessivamente combativa e incapaz de manter um relacionamento romântico. Isso está longe de ser verdade. Laurie Rudman e Julie Phelan, psicólogos da Universidade de Rutgers, nos EUA, derrubaram esse clichê consagrado a partir da década de 60 e provaram que as relações com feministas são mais tranquilas do que com as outras mulheres. Foram avaliadas a combinação de qualidade na relação, equidade de gêneros, estabilidade e satisfação sexual. De maneira geral, elas são mais seguras, mantêm uma vida sexual mais satisfatória e seus relacionamentos têm menos altos e baixos, sendo relações inclusive mais românticas. Para a antropóloga Mirian Goldenberg, autora de “Toda Mulher é meio Leila Diniz”, o fenômeno se aplica, principalmente, a mulheres independentes economicamente. “São muito mais exigentes na escolha de um parceiro e seguras de suas escolhas.”

4 - O romance e a paixão desaparecem com o tempo
A evolução da paixão para o amor maduro não precisavir acompanhada de um esfriamento da relação conjugal. A conclusão é dos pesquisadores Bianca Acevedo e Arthur Aron, da Universidade da Califórnia (EUA). Depois de analisar 27 estudos que envolveram mais de seis mil entrevistados – 17 levantamentos feitos com jovens em relações fugazes e outros dez feitos com homens e mulheres casados há pelo menos uma década –, eles perceberam que existe um meio-termo entre paixão arrebatadora e marasmo conjugal. Batizado por eles de amor romântico, esse sentimento requer esforço para ser construído, mas pode ser mantido por tempo indeterminado. “A transição é um momento crítico”, diz o sexólogo Joaquim Zailton Motta, do Grupo de Estudos sobre o Amor de Campinas (SP). Alguns conseguem. Dorli Kamkhagi, psicogeriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, tem casos de casais de 80 anos que se preocupam em manter a chama do sexo acesa. “O companheiro é o norte na vida de quem já criou filhos, construiu uma história e agora quer aproveitar.”

5 - O fim de um relacionamento é mais difícil para quem ainda está apaixonado
Quem ama sofre mais com o fim do relacionamento, certo? Errado. Essa foi uma das conclusões de Eli Finkel, coautor do estudo da Universidade de Northwestern’s Weinberg (EUA), que avaliou o grau de sofrimento esperado e real de casais em processo de separação. Para isso, sua equipe acompanhou 26 pessoas em relacionamentos durante 38 semanas de altos e baixos. Onde houve rompimentos, a expectativa de sofrimento registrada duas semanas antes da data do fim foi comparada ao sofrimento real nas quatro semanas subsequentes ao término da relação. O parceiro que imaginava que mais ia sofrer, de modo geral, foi o que superou mais rápido o término. A antropóloga Telma Amaral, da Universidade Federal do Pará, acredita que a expectativa de uma dor insuportável pode ajudar a amenizar a angústia real. “O cenário terrível imaginado, perto de uma realidade menor, diminui o impacto, o sofrimento”, afirma.

6 - O convívio antes do casamento prepara o casal para a vida conjugal
Ao contrário do que indica o senso comum, morar junto para testar se o relacionamento dá certo pode não ser o melhor caminho para a felicidade. De acordo com o estudo do ano passado da Universidade de Denver (EUA), conduzido pelos psicólogos Galena Rhoades, Scott Stanley e Howard Markman, casais que dividem o mesmo teto antes de oficializarem a relação têm mais chances de se divorciar e registram uma percepção de relacionamento menos satisfatória do que os que esperaram pelo grande dia. Para a psicóloga Mariana Chalfon, de São Paulo, um dos motivos pode ser a ausência do ritual. “A passagem que o casamento simboliza tem uma força maior do que as pessoas imaginam. Existe uma mobilização social cheia de símbolos que reforça esse impacto.” De acordo com o estudo, casais que passam a morar junto sem um comprometimento mais enfático com o casamento podem acabar continuando na relação por comodismo. Uma das razões levantadas pela pesquisa é que seria mais difícil terminar o relacionamento quando se divide a mesma casa antes do casamento. Outro problema subjacente que os pesquisadores encontraram é que casais que precisam “testar” a relação em geral já sabem ter algum problema que pode detonar a relação com o tempo.

7 - Biologicamente, os homens não foram feitos para a monogamia
Um estudo conduzido pela equipe do geneticista sueco Hasse Walum, do Karolinska Institute, em Estocolmo, aponta o contrário. Ao acompanhar 552 pessoas em relacionamentos bem estabelecidos, descobriu-se que, quanto menos cópias o homem tem de um gene específico, batizado de RS3 334, maior a propensão de viver uma vida satisfeita com a monogamia. O gene funciona da mesma maneira com a capacidade que temos de confiar uns nos outros: quanto menos cópias, mais confiantes, e, quanto mais cópias, mais desconfiados somos. “Mas não faz sentido limitar a discussão ao plano biológico”, explica Lídia Weber, professora de psicologia da Universidade Federal do Paraná. “Evolutivamente, se nosso objetivo fosse apenas espalhar material genético, seríamos todos polígamos.” Boa parte das sociedades não aceita o comportamento em larga escala e a monogamia se tornou uma importante ferramenta de organização social. “Nós, humanos, até temos o desejo da poligamia, mas optamos pela monogamia em prol de um objetivo maior, como a constituição da família”, exemplifica a terapeuta de casais Marina Vasconcellos.

8 - Para os homens, masculinidade se afirma com vigor físico e sexual
O modelo de homem que exibe sua virilidade por meio do corpo e da sexualidade está caducando. Esses fatores podem ainda ser importantes, mas não são mais suficientes. Um estudo publicado pelo inglês “Journal of Sexual Medicine” feito com 27 mil homens em oito países – incluindo o Brasil – mostrou que fatores como autoconfi ança, firmeza de caráter e controle sobre a própria vida ganharam mais importância na afirmação da identidade masculina. Para sorte das mulheres, esse novo homem está cada vez menos egoísta nos relacionamentos e se preocupa cada vez mais, em todos os planos, com o bem-estar da companheira. Em todas as nacionalidades, boa saúde, uma vida familiar harmoniosa e um relacionamento prazeroso com a esposa ou parceira era mais importante para a qualidade de vida do que preocupações materiais ou puramente sexuais. A antropóloga carioca Mirian Goldenberg, autora de “Toda Mulher é meio Leila Diniz”, comprova que a mudança é bem-vinda. “As mulheres esperam, e até mesmo exigem, que os homens mudem seus comportamentos, no que diz respeito ao relacionamento amoroso, mas também na forma de se vestir e se cuidar”, afirma.

9 - Brigas e críticas minam o casamento
“Só o amor volta para brigar, para perdoar”, disse Carlos Drummond de Andrade. Apesar de parecer maluquices de poeta, a ideia de que as discussões fazem parte dos relacionamentos saudáveis ganhou respaldo da ciência. Dois estudos da Universidade de Michigan (EUA), de 2008, mostram que brigar pode ajudar a resolver confl itos e aproximar o casal. Quando a raiva é suprimida em nome de uma suposta estabilidade da relação, o que acontece é justamente o contrário. Há, inclusive, consequências físicas para quem opta por abafar os conflitos. O mesmo estudo, que ouviu 192 casais durante 17 anos, apontou que, em relações em que os parceiros não expressam a raiva, a chance de uma morte prematura, devido ao stress, duplica se comparada à de pessoas que expressam seus sentimentos, mesmo que isso resulte em briga. Só não vale todo tipo de briga. “As críticas podem ser feitas, mas têm que ser entendidas como algo que leva ao crescimento. É preciso discutir sem ser intolerante, sem intransigência”, afirma Antonio Carlos Amador Pereira, da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O psicólogo arrisca até dizer que esse diálogo pode ficar acalorado. “Desde que não haja violência, seja verbal, seja física.”

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